Duas pessoas foram condenadas a penas que variam entre 21 e 28 anos de prisão. Este é o quadro apresentado na 6ª sentença proferida na chamada “Operação Dark Side”, deflagrada pela Polícia Federal no ano passado. O caso deu origem a seis processos e outros inquéritos ainda em tramitação.

Na sexta sentença, que envolvia quatro denunciados, o juiz federal substituto Marcos Alves Tavares, da 1ª Vara Federal em Sorocaba, condenou:

– Policial, pelos crimes de tráfico internacional, associação internacional para o tráfico, corrupção passiva, peculato e falso testemunho a 28 anos e 4 meses de prisão em regime fechado;

– Policial, pelos crimes de tráfico internacional, corrupção passiva, peculato e falso testemunho a 21 anos, 1 mês e 20 dias de prisão em regime fechado ;

Outro policial (da 6ª sentença), G.F.S.F., foi absolvido em relação aos fatos descritos na denúncia. Em relação ao quarto policial denunciado, por questões processuais suscitadas pela defesa, o processo foi desmembrado e gerou outra ação penal envolvendo exclusivamente o referido policial.

Entenda a 6ª sentença

A “Operação Dark Side” investigou e prendeu policiais civis, e seus comparsas, lotados, a maior parte deles no DENARC de São Paulo. Eles aplicavam o chamado “golpe da puxada” em traficantes internacionais. Os policiais faziam-se passar por pessoas com alto poder aquisitivo, até mesmo como empresários, dizendo-se interessados na compra de grande quantidade de entorpecente. Após várias tratativas e demonstrando condições para realizar a compra da droga, ganhavam a confiança dos traficantes e, quando a droga chegava ou era localizada, eles revelavam suas identidades. Para deixar de prender as pessoas, exigiam grande quantia em dinheiro ou ficavam com parte da droga (apreendiam pequena parte apenas para lavrar o flagrante), e dividiam o produto do golpe.

Na sentença em comento, os policiais e os informantes, por intermédio da brasileira A.S.N. e do brasileiro G.C.B.L., contataram dois bolivianos representantes de uma cooperativa de cocaína na Bolívia, mostrando interesse pela compra de 500 quilos da droga a cada 15 dias. A.S.N. e G.C.B.L. foram até a cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, para conhecer a cooperativa e os responsáveis por ela.

Como a grande quantidade de droga gerou desconfiança nos bolivianos, estes resolveram vir até o Brasil para conhecer os supostos “compradores”.

Na chegada ao Brasil, os estrangeiros foram recebidos pelo grupo de policiais e informantes disfarçados de compradores e todos seguiram para uma mansão alugada no Guarujá. Naquela casa, começaram as tratativas para a compra da droga.

O impasse surgiu quando os integrantes do golpe disseram que queriam pagar pela droga à vista. Os bolivianos, desconfiados, não aceitaram, e propuseram que os interessados dessem um sinal de 30% para trazerem a droga. Os golpistas não aceitaram e não houve acordo. Com isso, um dos bolivianos foi embora, mas o outro, H.C.B.E., ficou no Guarujá. Ele revelou que quis permanecer no país porque conhecia outro fornecedor, do próprio Brasil, que faria o negócio com o grupo. Constatou-se, então, que H.C.B.E. queria, a todo custo, negociar com o grupo. M.R.C. seria o fornecedor brasileiro, que também tinha ligação antiga com a cooperativa boliviana.

Cauteloso, porque já havia sido vítima do golpe da puxada, M.R.C. também quis conhecer o grupo pessoalmente. Na reunião para a compra da droga no Guarujá, os golpistas mostraram a famosa bolsa com os dólares. Interessado, M.R.C. relatou que teria 700 kg de cocaína estocados em São Paulo, sendo que a primeira parte seria entregue numa perua tipo Kombi, com cerca de 100 quilos, no dia seguinte (23/10/2012). O restante seria entregue de forma parcelada, à medida que fossem realizados os pagamentos.

No dia combinado, houve um encontro em São Paulo, entre M.R.C. e os golpistas, para a entrega acordada. A.S.N. e H.C.B.E. permaneceram no Guarujá, atentos à entrega. À noite, H.C.B.E. recebeu mensagem da Bolívia dizendo que M.R.C. havia sido preso. A.S.N. e H.C.B.E., em contato com os golpistas, ficaram sabendo que o negócio não tinha dado certo e que “M.R.C. estava bem”.

No dia seguinte, M.R.C., juntamente com os golpistas, voltaram ao Guarujá e os policiais revelaram suas identidades. Apesar disto, nenhum dos envolvidos foi preso pelos policiais, pois tudo não passou do “golpe da puxada”.

Foram apreendidos os cerca de 100 quilos da kombi um terceiro que figurou como responsável pelo veículo foi preso, apenas para formalizar o flagrante. Os 600 quilos restantes ficaram com os golpistas e o traficante M.R.C. pagou a importância de R$ 2 milhões para se livrar da prisão e livrar A.S.N. e H.C.B.E. também. Novamente, M.R.C. havia sido vítima do golpe da puxada.

Os fatos aqui apresentados são idênticos aos da 1ª e à 5ª sentença, relativos aos fatos ocorridos nos dias 23/10 e 24/10/2012. A Justiça Federal não informa as identidades dos réus em razão do sigilo nos autos.

Assessoria de Comunicação Social do TRF3
(Fonte: JFSP)

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